O paciente da enfermeira Jana Hen tem 82 anos e é cego. “Um bom dia para você”, diz Hen, colocando um sorriso em suas palavras. O paciente reconhece a voz de Hen.
“Eu sei que vai ser uma ótima manhã se você estiver cuidando de mim”, diz ele.
Hen é a enfermeira chefe do Departamento de Oftalmologia do Hospital Hadassah Ein Kerem. Uma de suas inovações foi designar uma enfermeira dedicada para cada paciente, para que ninguém hospitalizado em sua unidade se perca na confusão, um problema particularmente para quem tem a visão prejudicada.
“Precisamos construir a confiança para tornar a cura bem-sucedida”, diz ela. “Se os pacientes confiam em você, é muito mais provável que eles obedeçam às instruções, usando seus colírios, por exemplo, depois de voltarem para casa”.
Recentemente, a própria Hen se tornou uma espécie de celebridade. Num concurso popular da televisão o MasterChef Israel, ela ganhou o cobiçado avental de ouro, que permite que concorrentes altamente talentosos pulem muitas das rodadas preliminares e sigam diretamente para as etapas finais. Nascida na antiga República Soviética da Geórgia, onde havia pouca comida pronta, Hen sempre adorou cozinhar. A arte de transformar massa em bolinhos era um passatempo nacional.
A comida da Geórgia difere da culinária russa porque foi influenciada por sabores de países mediterrâneos como Grécia e Turquia, assim como a Pérsia.
Quando os portões da União Soviética começaram a se abrir na década de 1970, os pais de Hen imigraram para Israel. Eles se estabeleceram em Beersheva e Hen frequentou uma escola religiosa. No ensino médio, ela e seus pais estavam em desacordo. Eles acreditavam que ela deveria se casar com um jovem da Geórgia, mesmo que ela ainda estivesse no ensino médio.
“A cozinha era um oásis de calma e felicidade”, diz Hen. “Lá encontrei a combinação certa da minha culinária georgiana antiquada e dos sabores de Israel”.
Hen aprendeu dicas de sua mãe e tia, que valorizavam seus toques criativos nas especiarias que ela adicionava à berinjela assada com pasta de nozes, pão de queijo da Geórgia e khinkali (bolinhos de massa da Geórgia). “Eu apenas experimentava”, ela lembra. “Pegava um pouco de farinha, manteiga e ovos e via o que acontecia. Minha mãe não comentava meus fracassos. No entanto, meu falecido avô dizia: ‘Talvez alguém com muita fome coma isso’.”
Foi a mãe de Hen quem sugeriu que ela se tornasse enfermeira. Então Hen ficou na escola por mais um ano para fazer um curso prático de enfermagem.
Embora tenha discutido com seus pais que queriam que ela se casasse ainda bem jovem, Hen acabou concordando em se casar com um menino georgiano, que também morava em Beersheva.
“Lembro-me da minha cerimônia de formatura”, diz Hen. “Todas as meninas vestiam roupas bonitas com pompons, enquanto eu usava um vestido de maternidade.”
Mesmo quando seus dois filhos eram pequenos e ela trabalhava por longos períodos como enfermeira, Hen encontrou tempo para cozinhar e, cada vez mais, para assar. Ela experimentou culinária internacional e se apaixonou por bolos franceses, usando as habilidades que desenvolveu quando menina para se tornar uma chef hábil. Quando o MasterChef Israel procurou os hospitais Hadassah para ver se alguma enfermeira estaria interessada em competir, Hen era a escolha óbvia. Ela chegou às etapas finais da competição.
Para Hen, cozinhar também é uma terapia de humor. “Quando estou pra baixo”, ela diz, “asso algo doce e, antes que eu me dê conta, estou alegre de novo”.