James Kim*, um estudante universitário de 20 anos na Coréia, achava que seu futuro estava garantido. Ele se formaria, conseguiria um bom emprego na Samsung, Hyundai ou LG, e talvez se casasse com sua namorada, uma colega.
Então o pai de James foi diagnosticado com um tumor cerebral fatal, um glioblastoma. Seu jovem primo foi diagnosticado com a mesma doença incurável. Kim não apenas ficou arrasado com as notícias sobre seu amado pai e primo, mas também ficou aterrorizado com sua própria saúde. Ele seria vítima da mesma doença?
A resposta a esta pergunta estava escondida dentro do próprio tumor.
O pai de James passou por um teste genômico chamado Invitae, que o identificou como portador de uma variante genética no gene TP53. A ciência ainda não havia determinado se os portadores dessa variante em particular tinham um risco aumentado de contrair câncer.
James fez sua lição de casa. Ele escreveu ao Prof. Thierry Soussi, um pesquisador líder mundial do gene TP53 na Universidade da Sorbonne em Paris, para obter seu conselho.
Mais ou menos na mesma época, o Dr. Shai Rosenberg da Organização Médica Hadassah (OMH), que estava fazendo uma bolsa de pós-doutorado, conheceu o Prof. Soussi em Paris. O veterano cientista francês, conhecido pela criação do atlas mais abrangente de variantes do TP53 na população humana, e o jovem médico-cientista israelense com uma graduação de Mestrado e um Doutorado incomus, por combinarem a Faculdade de Medicina com as Matemáticas e as Ciências da Computação, compartilhavam a paixão pela compreensão do TP53.
O TP53 é infame entre os pesquisadores de câncer. Está presente em 50% de todos os tumores malignos, e uma de suas mutações causa a síndrome de Li-Fraumeni, uma doença genética hereditária com 50% de risco de desenvolver câncer antes dos 30 anos.
Hoje, usando um sofisticado sequenciamento de DNA, encontrar mutações genéticas é simples onde o Prof. Soussi faz sua pesquisa e no OMH, onde o Dr. Rosenberg faz ambos, tratar pacientes de Neuro-oncologia e conduzir pesquisas. O problema com o TP53 é que existem 2.314 possíveis mutações “missense”, onde um único aminoácido substituiu outro. Até recentemente, apenas 190 das 2.314 variantes possíveis eram conhecidas como responsáveis pelo câncer. Noventa e dois por cento das variantes ainda eram um mistério.
A questão permanecia: quais predizem o aparecimento do câncer? Se esses cânceres forem detectados no estágio inicial, eles geralmente podem ser removidos com segurança por meio de cirurgia antes de crescerem. Mas como as 2.224 mutações restantes poderiam ser classificadas?
“Para resolver esse problema, poderíamos analisar centenas de milhares – e, no futuro, milhões de tumores – e generalizar a partir dos resultados. A única maneira prática de lidar com esse projeto é aplicar inteligência artificial, IA, aos enormes bancos de dados”, explica o Dr. Rosenberg.
Construir um algoritmo que pudesse resolver esse mistério foi o desafio das equipes internacionais lideradas pelo Dr. Rosenberg e pelo Prof. Soussi.
Eles conseguiram. Recentemente, eles anunciaram que agora podem identificar, com um nível de precisão sem precedentes de 96,5%, todas as possíveis mutações perigosas do gene TP53 que são comumente encontradas em 50% dos tumores e também em portadores suspeitos de ter síndrome de Li-Fraumeni.