Rely Alon, PhD, vice-diretora de enfermagem e profissões da área da saúde da Organização Médica Hadassah e filha de sobreviventes do Holocausto, herdou a determinação em salvar vidas de sua mãe resiliente.
Alon está encarregada dos esforços de enfermagem nas unidades de surtos de COVID-19 desde antes que o primeiro paciente de coronavírus em Israel fosse identificado. Sempre que se cansa, pensa em sua mãe, Chana Blumlich que, graças a sua fé e determinação, sobreviveu ao Holocausto, tornou-se uma amada professora de escola maternal, estabeleceu uma família e ainda é uma fonte de otimismo para a filha. A resiliência de sua mãe foi um fator primordial na decisão de Alon de se tornar enfermeira, parteira e uma líder.
Esta é a história de sua mãe, contada hoje a Barbara Sofer, diretora de relações públicas do Hadassah em Israel, na véspera do Yom Hashá, Dia da Lembrança do Holocausto e do Heroísmo:
Chana tinha 3 anos quando os nazistas ocuparam a Polônia e seus pais conseguiram fugir de Varsóvia para a Sibéria. Quando ela tinha 4 anos, ela se lembra do frio congelante, enquanto sua mãe estava na fila para conseguir cascas de batata para alimentar a família.
Da Sibéria, a família fugiu para Tashkent, no Uzbequistão, e acampou na estação de trem, onde o que restou de seus pertences foram roubados e Chana pegou tifo. Ela foi hospitalizada e lembra que ninguém nunca foi visitá-la, nem depois quando ela foi colocada na primeira de muitas instituições – primeiro muçulmana, depois cristã e mais tarde russa.
Chana recebeu um nome russo cristão e sabia que não devia revelar sua identidade. Quando a guerra terminou, ela ia diariamente ao chefe do orfanato insistindo em mudar seu nome, argumentando que se seus pais a procurassem, eles não a encontrariam com esse novo nome. Finalmente, o diretor concordou e ela conseguiu seu nome de volta.
Reunindo os órfãos de guerra de diferentes esconderijos e instituições, os russos os colocaram em um trem de volta à Polônia. Chana, agora doente de malária, foi colocada em um vagão para crianças doentes. Ela estava com 8 anos. Uma garota mais velha, que estava ajudando com os doentes, notou que o sobrenome dela era o mesmo que o de uma garota saudável em outro vagão. Quando a menina de 9 anos, loura e de olhos azuis, veio ver Chana, ela não reconheceu a criança de cabelos escuros e doentios como sendo sua irmã. Quando Chana não conseguiu se lembrar do nome da mãe, a irmã pediu mais provas. Chana mostrou a marca de nascença na barriga que ela sempre considerou um defeito feio, e as irmãs ficaram juntas. Elas estavam entre as crianças que o rabino Isaac Herzog ajudou a levar para aquele que ainda se tornaria o Estado de Israel. Após uma longa e tortuosa jornada, chegaram a Haifa. As irmãs, que só tinham a roupa do corpa, foram levadas pela Youth Aliyah.
“Recebemos não apenas comida e roupas, mas a confiança de que poderíamos começar uma nova vida”, diz Chana. “Eu serei eternamente grata.”
Apesar dos perigos de chegar a Jerusalém, as meninas encontraram um lar na Youth Aliyah, uma das muitas aldeias mantidas pela instituição então apoiadas pelo Hadassah, e pela Organização Sionista da América (Wizo).
Chana se casou com o sobrevivente do Holocausto, Yohanan Meller, e tiveram três filhas. A mais velha é Rely, com quem ela fala diariamente. Como todos os idosos, Chana, 84 anos, está agora em “isolamento de idosos” por causa das restrições ao coronavírus e não pôde estar com suas filhas no Yom Hashoá.
“Você pode ver que minhas raízes em querer proteger mães e crianças e salvar vidas, como as de muitos de meus colegas do Hadassah, são muito profundas”, diz Alon. “Estar cansada ou desistir simplesmente não é uma opção.”
Uma das poucas enfermeiras de prática avançada (APN) em Israel, Alon chegou ao Hospital Hadassah Ein Kerem vinda do Hospital Assaf HaRofeh em Beer Yaakov, onde dirigiu a Henrietta Szold – Universidade Hebraica Hadassah de Extensão de Enfermagem e chefiou o Centro de Saúde da Mulher do Fundo Maccabi Sick. Depois de receber seu diploma de bacharel em enfermagem pela Universidade de Tel Aviv em 1997, ela obteve um doutorado em estudos de gênero pela Universidade Bar-Ilan de Ramat Gan em 2015.
Embora sua pesquisa geral tenha se concentrado nos direitos das mulheres, na saúde das mulheres e na educação em saúde, a tese de doutorado de Alon forneceu uma perspectiva sociológica, antropológica e psicológica sobre os homens que estão sendo tratados pora infertilidade em Israel. Em contraste com pesquisas anteriores que se concentraram em mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade, sua pesquisa tentou entender como os homens ultraortodoxos, religiosos e seculares diferem uns dos outros na maneira como lidam com os tratamentos de infertilidade, com base em suas origens culturais e sociais.
Alon, mãe de três filhos, conheceu o marido, um médico argentino, enquanto pegava carona do hospital.
Legenda: O mais próximo possível: Rely Alon e sua mãe, Chana Blumlich, se encontram através do vidro, antes do Yom Hashoá.