Há cerca de 15 anos, o Hadassah Medical Organization (HMO) iniciou um programa de “pacientes não diagnosticados” para identificar as causas de doenças que não se enquadravam em nenhuma categoria conhecida. Hoje, sob a direção da Profª Orly Elpeleg, chefe do Departamento de Genética, o Hadassah identificou 100 novas variantes genéticas causadoras de doenças, responsáveis por condições médicas leves e graves. Essas variantes são coletadas em um banco de dados chamado HADASSOME.
Devido ao estreito relacionamento entre o HMO e a comunidade judaica mexicana, uma conexão de longa data facilitada pelo Hadassah México, a Profª Elpeleg uniu forças com a liderança comunitária para criar o Projeto da Comunidade Judaica Mexicana. Graças ao sequenciamento genético de 113 casais judeus da Cidade do México, essa iniciativa de ponta agora possui um banco de dados de mais de 300 exomas, a parte codificadora do DNA de um indivíduo. Como explicou a Profª Elpeleg em um webinar do Hadassah International em 14 de julho, enquanto os exomas representam apenas 1 a 2% do nosso DNA, 85% das mutações causadoras de doenças residem nos exomas. Freqüentemente, uma mutação em uma única letra ou duas na sequência genética humana de três bilhões de letras pode causar uma doença. O objetivo é vincular uma condição médica específica e uma mutação.
“Para doenças genéticas raras, a melhor terapia é a prevenção”, enfatizou a Profª Elpeleg, já que “em 95% das doenças raras, não há terapia”. Mas isso não impede a professora de seguir em sua constante busca de maneiras de tratar essas doenças.
Em algumas comunidades, existem “mutações fundadoras”, variantes comuns na população. Já se sabe há algum tempo que muitos judeus asquenazes, por exemplo, carrregam mutações fundadorasem seus genes, mesmo que as pessoas não sejam parentes. Para impedir a transmissão de um distúrbio genético grave para a próxima geração, os casais podem escolher a triagem pré-natal para 100 dessas variantes.
Nos últimos três anos, o Hadassah identificou mutações causadoras de doenças na comunidade judaica síria do México. Seus líderes pediram ao Hadassah que os ajudasse a identificar portadores dessas variantes.
O Projeto da Comunidade Judaica Mexicana está apenas começando seu terceiro segmento. O primeiro foi concluído em fevereiro e o segundo em maio, com um total combinado de 113 casais tendo seus exomas sequenciados. Quando o COVID-19 interferiu nas consultas pessoais, o Hadassah passou a realizar as reuniões com os casais via Zoom. Durante os 8 dias de 3 a 11 de maio, o Hadassah conduziu sete reuniões de Zoom, cada uma com 3 horas de duração. No total, 166 indivíduos se reuniram com especialistas do Hadassah para discutir sua análise do exoma. “Foi uma maratona”, comentou a Profª Elpeleg.
A Profª Elpeleg explicou que os participantes foram informados sobre variantes causadoras de doenças específicas, bem como achados secundários “acionáveis” que os predispunham a problemas cardíacos ou câncer, para os quais eles poderiam tomar alguma medida de precaução, como monitoramento por um cardiologista ou realizar mamografia ou colonoscopia mais cedo do que o recomendado para a população em geral.
As descobertas revelaram que ambos os membros de cinco casais tinham a mesma variante causadora de doença. Três outros indivíduos tinham uma variante grave causadora de doença. Elpeleg explicou que todos os oito agora serão submetidos a testes de embriões ou fetos para evitar trazer uma criança com uma doença grave ao mundo.
Outros sete indivíduos tinham variantes que os predispunham a arritmias cardíacas e agora serão monitorados por um cardiologista. Dois indivíduos tinham variantes que os predispunham ao câncer e agora tomarão medidas para garantir a detecção precoce. Em resumo, a Profª Elpeleg observou: “17 de 113 indivíduos foram alertados para uma descoberta que mudou a vida deles. Esse total representa 15% dos testados. ”
Dando aos participantes uma noção de como as variantes genéticas são identificadas e ligadas a uma síndrome específica da doença, a Profª Elpeleg compartilhou a história de uma menininha de descendência norte-africana que, com cerca de 6 meses de idade, experimentou fraqueza nas pernas durante uma doença que causa febre. Ela se recuperou, mas depois, com cerca de 2 anos, contraiu outra doença semelhante. Desta vez, seus braços ficaram fracos e ela se tornou uma paciente da Profª Elpeleg. Os pais estavam frenéticos porque já haviam perdido um filho aos 5 anos de idade com a mesma doença não diagnosticada. A Profª Elpeleg buscou por todo o país outras famílias de ascendência norte-africana com um tipo semelhante de doença e encontrou três. Após uma exploração mais aprofundada com os colegas, a Profª Elpeleg identificou a variante do gene CD59 como o culpado. A mielina da criança, a camada isolante dos nervos periféricos, estava sendo atacada. Elpeleg encontrou um medicamento aprovado pelo FDA chamado Eculizumab que, embora direcionado para outra doença, provou ser eficaz para esse distúrbio genético. “Isso não é a cura; é uma terapia necessária a cada 21 dias ”, explicou a Profª Elpeleg. Para identificar uma terapia, acrescentou: “você deve colocar o dedo no erro exato”.
Refletindo sobre o projeto mexicano, a Profª Elpeleg observou com admiração: “O que a comunidade judaica mexicana fez foi muito pioneiro. Esta é uma comunidade que se importa uns com os outros.”
O webinar fez parte do Encontro Internacional de Verão do Hadassah 2020, “Conversas sobre saúde com especialistas do Hadassah”, que atraiu mais de 6.000 ouvintes de 35 países.
Assista aqui o webinar completo: